Vila-realense a viver na China com “receio” do coronavírus mas apostado na carreira profissional

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Bruno dos Anjos, natural de Vila Real, de 26 anos, vive em Shanghai, China, há dois anos e meio. O jovem, licenciado em ciências do desporto e com mestrado na mesma área pela UTAD, é treinador de futebol na empresa RaySports.  

Quis a sorte que estivesse de férias na Indonésia, quando surgiu o surto de coronavírus, local onde ainda se encontra, dado que devido ao vírus, já teve o seu voo adiado duas vezes, esperando agora regressar no próximo dia 10.  

Em entrevista à UFM, Bruno dos Anjos mostra algum receio, mas está apostado em continuar a sua carreira profissional, até porque, neste momento, a sua “vida” está em Shanghai. 

UFM: Antes de mais, como surgiu a oportunidade de ires para a China e há quanto tempo vives aí? 

Bruno: Eu agora trabalho em Shanghai, já há ano e meio, mas antes já tinha trabalhado numa outra cidade na China. A primeira oportunidade surgiu por pertencer a um clube português, à qual fui convidado a integrar a equipa técnica. Esse projeto acabou por não ir avante mas abriu outras portas e oportunidades no mercado chinês como treinador de futebol. 

UFM: E quando começaste a ouvir falar no coronavírus pela primeira vez, onde estavas? 

Bruno: Eu vim de férias no dia 19 de Janeiro para a Indonésia e já nessa altura se ouvia falar de alguma doença, mas era como se de apenas um rumor se tratasse, quando se começou a falar seriamente do assunto, já me encontrava eu fora do país. 

UFM: Como te sentiste? Preocupado? Como estás a fazer o acompanhamento desta situação? 

Bruno: Eu estou com um grupo de amigos, trabalhamos na mesma empresa em Shanghai e, obviamente, estamos bastante preocupados com o tema. Não que estejamos em perigo latente, porque realmente na Indonésia não se sente, mas pela situação toda e pela forma como vai afetar as nossas vidas, trabalho, etc. Estamos em constante contacto com algumas pessoas que se encontram na China, com a empresa também, para ver como está realmente a situação, porque estando de fora não se tem realmente a ideia do que se passa exatamente. No nosso caso, por exemplo, íamos começar a trabalhar no dia 3 e já foi adiado para dia 10 de fevereiro, sendo que já tive dois voos cancelados no entretanto… 

UFM: já tiveste conhecimento de alguém que conheças que tenha sido afetado pelo coronavírus 

Bruno: Não, não conheço ninguém afetado pela doença. 

UFM: E a tua família cá em Portugal? Como reage a toda esta situação? 

Bruno: Estão preocupados, claro, sabendo que posso estar em perigo. Claro que, sabendo eu que estou bem e mantendo contacto, estão mais descansados 

UFM: O facto de estares na Indonésia quando se deu o surto, consideras que foi uma sorte? 

Bruno: Terá o seu lado positivo e negativo, mais positivo claro. Positivo porque me encontro bem, porque a minha saúde não foi afetada. Negativo porque se criou uma situação de incerteza relativa ao trabalho e a toda a situação em redor. Na realidade, a minha vida neste momento está em Shanghai, as minhas coisas estão todas aí, o meu trabalho, a minha casa… É uma situação bastante complicada… 

UFM: Disseste que já tiveste dois voos cancelados e pela tua anterior resposta, vejo que queres voltar para Shanghai. Não tens receio? 

Bruno: Se a minha empresa diz que dia 10 de Fevereiro se trabalha, afinal tenho que respeitar. O meu voo inicial era para dia 3 estar a trabalhar, foi cancelado e, segundo as indicações da empresa, adiei para estar a trabalhar no dia 10 como me foi informado. Agora este último foi também cancelado e estamos à espera de novas indicações. Receio há sempre, claro, o facto de me poder estar a expor a uma doença, mas pelo que vejo a cidade de Shanghai não está um caos como, por exemplo, Wuhan 

UFM:E quais as medidas que pretendes adoptar, quando regressares à China, para te protegeres? Não será fácil, tendo em conta que tens um trabalho que envolve o contacto direto com muitas pessoas… 

Bruno: Não será fácil claro, até porque há já várias medidas do governo chinês relativas ao desporto e prática desportiva, mesmo o adiamento dos campeonatos profissionais. A ter de voltar, há a questão da máscara, higiene muito mais apertada, o contacto direto com outras pessoas, serei muito mais cauteloso com tudo que envolva aglomerações de pessoas. 

UFM: Esta questão faz-te repensar o teu percurso profissional na China? Pretendes continuar aí ou pensas em procurar outra oportunidade noutro lado? 

Bruno: Um pouco, claro, este tipo de situações faz-te repensar em muitas coisas, mas também não podes simplesmente largar tudo. 

UFM: Já estás há quantos anos na China? O que dirias que são as vantagens e as desvantagens de viver aí? 

Bruno: Total de tempo real, estarei no meu terceiro ano (dois anos e meio completos), tendo também em conta que o meu primeiro ano (em Suiyang), não se completou. Vantagens aqui, no meu ramo, o tema financeiro é importante ou não me faria voar uns bons milhares de quilómetros fora de casa. Em termos da cidade de Shanghai, dá-me muito mais que só o trabalho, permite-me uma vida completa a todos os níveis. 

Fim 

Sónia Domingues 

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