Casa do Douro dá “grito de alerta” e reclama medidas para viticultores em crise

A Casa do Douro reclamou esta sexta-feira medidas “fundamentais” para enfrentar a crise na viticultura como a incorporação de aguardente regional no vinho do Porto, destilação de crise, colheita em verde e a suspensão do VITIS.

“Há grandes operadores que estão com excessos de vinhos e que não querem ir à vindima [comprar uvas ou comprar menos quantitativo], e isto impacta muito naquilo que é o pequeno e médio viticultor, ou seja, o viticultor que faz desta vida o seu sustento e que depois não tem onde vender as suas uvas”, afirmou Rui Paredes, presidente da Casa do Douro.

O responsável falava numa conferência de imprensa, que decorreu na sede da instituição de defesa dos viticultores, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, e que serviu como “um grito de alerta” para a crise que poderá atingir, pelo terceiro ano consecutivo, a vindima no Douro.

Desde março que centenas de viticultores estão a receber cartas de empresas produtoras de vinho a avisar que este ano não lhes vão comprar as uvas ou que vão comprar em menos quantidade, o que poderá intensificar as dificuldades dos produtores que perderam, nos últimos três anos, 40% dos rendimentos, sofrendo, em simultâneo, um aumento exponencial dos custos de produção.

“É um grito de alerta para Lisboa, é um grito de alerta para o país (….) É importante olhar para o Interior como um foco de desenvolvimento do país”, frisou, salientando que se não for feito nada e se se continuar “neste marasmo”, os próximos meses “vão ser muito complicados”.

As soluções consideradas “fundamentais” e que são reclamadas pela Casa do Douro vão desde a destilação de crise dos excedentes vínicos acumulados, com o objetivo de libertar capacidade de armazenamento e gerar rendimento imediato para os produtores, bem como a incorporação de aguardente regional na produção de vinho do Porto e a suspensão do programa de apoio à reestruturação e reconversão da vinha (VITIS), canalizando essas verbas para medidas emergenciais e ajustadas à realidade atual.

Rui Paredes destacou a situação das adegas cooperativas que são obrigadas a ficar com todas as uvas dos seus associados e que estão sem capacidade de armazenamento.

“A própria questão da colheita em verde poderá estar aqui em cima da mesa e a compra, por parte do Estado, de vinho do Porto disponível, no sentido de podermos refrescar e equilibrar os vinhos [em stock] da Casa do Douro”, realçou.

Rui Paredes reclamou uma “dotação de verbas substanciais” para a colheita em verde, com critérios ajustados à realidade duriense, bem como a antecipação de apoios aos viticultores, nomeadamente subsídios diretos, para garantir liquidez em tempo útil antes do pico de operações agrícolas, e a definição de um plano plurianual para a reestruturação do setor vitivinícola do Douro, exemplificando com o benefício (quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto) com uma previsão de, por exemplo, três anos.

A colheita em verde é o corte antecipado da uva e, neste caso, o apoio é atribuído diretamente ao produtor.

“Estou muito preocupado com o que vai acontecer daqui para a frente porque as pessoas começam a ficar muito revoltadas e sem encontrar uma solução”, frisou.

Rui Paredes disse que a Casa do Douro estava em conversações com o ministro e secretário de Estado da Agricultura, com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), só que as eleições antecipadas vieram dificultar este processo porque, agora, este é um Governo de gestão.

Questionado sobre outros destinos e soluções para as uvas, vinhos e derivados, o responsável disse que a investigação e desenvolvimento fazem parte dos projetos da Casa do Douro, no entanto, realçou que é preciso “resolver a questão no imediato”.

Por fim, a Casa do Douro deixou um apelo “à união, sem agendas, por um único objetivo” que é “dar um novo rumo à viticultura duriense”.

Lusa

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